"Il faut finir pour commencer": a guerra do Paraguai em três tempos
DOI:
https://doi.org/10.47677/gluks.v24i3.499Palavras-chave:
Narrativa de mem´órias, Guerra do Paraguai, Duprat, Taunay, JaceguaiResumo
Transpor o passado para um texto ficcional não é tarefa fácil: há um hiato natural entre viver e narrar. As palavras olham invariavelmente para trás, alheias e ulteriores aos fatos que reportam. Toda narrativa de memórias é, neste sentido, um (des)encontro consigo própria. Em se tratando das memórias de uma guerra, há ainda o peso da violência e do trauma sobre os narradores. O presente artigo propõe-se a estudar a significação narrativa de três textos escritos por sobreviventes da guerra do Paraguai: uma prisioneira política, submetida a trabalhos forçados em um campo de concentração (Duprat, Memórias); um oficial do Exército, testemunha da fracassada campanha do Norte (Taunay, La retraite de Laguna); e um oficial da Marinha, copartícipe dos sucessos da campanha do Sul (Jaceguai, Reminiscências da Guerra do Paraguai). Por meio dos critérios de “exatidão” e “fidelidade” autobiográfica (Lejeune, 1975), avaliados à luz de conceitos como os de “focalização” narrativa (Genette, 1972; Bal, 1997) e “testemunho” (Agamben, 2008; Dulong, 1998, Seligmann-Silva, 2008), pretende-se avaliar a dimensão “retrospectiva”, “presentificativa” ou “prospectiva” das memórias elencadas (Sandanello, 2014), segundo a significação que, em cada obra, reverberam os efeitos da guerra.
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