O perigo do romance, ou a leitura em perigo?
DOI:
https://doi.org/10.47677/gluks.v24i3.510Palavras-chave:
Crítica às leituras. Romance. Jornal religioso. A Cruz. Século XIX.Resumo
No Brasil, durante o século XIX, mudanças significativas ocorreram com a chegada de uma modernidade tecnológica e ideológica, entre elas, a imprensa nacional e a circulação de livros e de narrativas sobre eles. No entanto, títulos e autores foram alvos de censura, em razão do afastamento dos preceitos religiosos da época e por serem considerados ameaçadores às instâncias de poder. É neste contexto que o presente trabalho recupera as críticas divulgadas no jornal A Cruz, “jornal religioso, literário, histórico e filosófico”, publicado no Rio de Janeiro entre 1861 a 1864. A partir da análise dos julgamentos feitos às obras ficcionais, é possível reconstituir as nuances ideológicas, políticas e religiosas enquanto posicionamentos contrários às leituras, as quais se encontravam distantes dos preceitos puramente moralizantes previstos para a ordem católica. O estudo revela as intenções específicas quanto à condenação das leituras, principalmente do romance, a qual serviu como um instrumento de persuasão na condução em direção aos dogmas cristãos e, principalmente, na afirmação da Igreja e de seus integrantes como detentores de um saber moralmente verdadeiro, em detrimento da potência de subversão de ideias a partir dos escritos literários disponíveis ao público leitor.
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Fontes primárias
A CRUZ. Rio de Janeiro: 1861 – 1864.
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