Libertas quae sera tamen

a memória desdobrada da infância mineira em Menino antigo, de Carlos Drummond de Andrade

Autores

  • Mirella Carvalho do Carmo Universidade Federal de Lavras-UFLA
  • Andréa Portolomeos Universidade Federal de Lavras

DOI:

https://doi.org/10.47677/gluks.v22i3.335

Palavras-chave:

Minas Gerais, Memória, Carlos Drummond de Andrade, Infância

Resumo

Neste artigo, pretendemos refletir acerca dos desdobramentos das memórias da infância mineira que constituem a obra Menino Antigo (1973), de Drummond. Para tanto, trabalharemos com a ideia de um “sujeito lírico fora de si” (COLLOT, 2004) – que se distancia da concepção defendida pela tradição da lírica moderna (FRIEDRICH, 1978) –, discutindo uma reconfiguração da categoria do sujeito lírico na pós-modernidade. Nesse sentido, investigaremos a “liberdade, ainda que tardia” do eu cartesiano que, pela poesia contemporânea, consegue expandir-se e reconhecer-se nos outros e como um outro, isto é, como um sujeito atravessado por identidades múltiplas. Assim, temos as rememorações do eu lírico drummondiano dando existência ao mundo de Minas no século XX (CANDIDO, 2000) e também um mundo mineiro cantado por um poeta aberto à alteridade, o que problematiza a concepção tradicional de “mineiridade”. Nesse viés, analisaremos poemas da obra Menino Antigo para percebermos a representação da(s) infância(s) mineira(s) nessa lírica. Ademais, discutiremos as memórias plurais de uma Minas também plural, pois que enunciada por um poeta multíplice, que retoma o seu passado e o de seu grupo social no presente da enunciação poética, reelaborando-o e fazendo-o ecoar pela voz de um eu que já é um outro.

Biografia do Autor

Mirella Carvalho do Carmo, Universidade Federal de Lavras-UFLA

Mestranda no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Lavras (PPGL-UFLA). Graduada em Letras pela Universidade Federal de Lavras (FAELCH/UFLA). Membra do Grupo de Pesquisa Linguagem Literária e Educação Estética (CNPq).

Andréa Portolomeos, Universidade Federal de Lavras

Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora da graduação e da pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Lavras (FAELCH/ UFLA). Líder do Grupo de Pesquisa Linguagem Literária e Educação Estética (CNPq).

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Publicado

2023-02-14

Como Citar

Carvalho do Carmo, M., & Portolomeos, A. (2023). Libertas quae sera tamen: a memória desdobrada da infância mineira em Menino antigo, de Carlos Drummond de Andrade. Gláuks - Revista De Letras E Artes, 22(3), 115–139. https://doi.org/10.47677/gluks.v22i3.335