A cabeleira de Ofélia
performance, pintura e poesia
DOI:
https://doi.org/10.47677/gluks.v24i3.502Keywords:
Cesário Verde, Ofélia, Intertextualidade, Relações interartesAbstract
O nome Ofélia evoca um complexo imagético que se expande para muito além do texto dramático de Shakespeare. Recriada em performances teatrais e cinematográficas, na obra plástica de artistas que a representam incansavelmente e na literatura que obsessivamente a reinventa, a personagem se desgarra de um enredo que lhe reserva, talvez, um papel secundário, para assumir estatuto autônomo e incorporar uma gama de sentidos, por vezes antitéticos, que vão refletir muito do contexto que a recebe e reinterpreta, projetando nela valores e ideais. Neste trabalho, inserido no projeto “Metamorfoses de Ofélia: travessias portuguesas”, atentamos para o poema “Meridional – Cabelos”, de Cesário Verde, cuja imagem dominante – a cabeleira da amada – se revela rastro de uma Ofélia que transita entre tempos, mídias e culturas, e concentra aspectos fundamentais da personagem e de seu destino: a fluidez, a metamorfose, o erotismo e a morte. Em franco diálogo com Baudelaire, por sua vez devedor da obra plástica de Delacroix e da interpretação de Harriet Smithson (a mais famosa Ophelia dos palcos parisienses), Cesário Verde introduz por meio da sinédoque poética um perfil feminino flagrantemente finissecular – a belle dame sans merci – e instaura um espaço de experiência delirante e sinestésica, bem ao gosto simbolista.
References
BACHELARD, Gaston. A Água e os sonhos. Ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Trad. Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.
. As Flores do Mal. Trad. Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
BLANCHOT, Maurice. O Livro por vir. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. Trad. Paulo Neves. São Paulo: 34, 1998.
FOUCAULT, Michel. História da Loucura: na Idade Clássica. Trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2013.
MACEDO, Helder e RECKERT, Stephen. Do Cancioneiro de Amigo. 3a ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 1996.
MACEDO, Helder. Cesário Verde: o erotismo de humilhação. In: ---. Trinta leituras. Lisboa: Presença, 2006. p. 78-87.
RABY, Peter. Fair Ophelia: a life of Harriet Smithson Berlioz. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
RHODES, Kimberly. Ophelia and Victorian visual culture: representing body politics in the nineteenth century. Aldershot and Burlington: Ashgate Publishing, 2008.
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Trad. Millôr Fernandes. Porto Alegre; L&PM, 1997.
VERDE, Cesário. O Livro de Cesário Verde. Poemas. (Edição e notas de Sérgio Faraco) . Porto Alegre: L&PM editores, 2008.
VEST, James. The French face of Ophelia from Belleforest to Baudelaire. Lanham: University Press of America, 1989.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2024 Gláuks - Revista de Letras e Artes
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.