A cabeleira de Ofélia

performance, pintura e poesia

Autores

  • Mônica Genelhu Fagundes UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.47677/gluks.v24i3.502

Palavras-chave:

Cesário Verde, Ofélia, Intertextualidade, Relações interartes

Resumo

O nome Ofélia evoca um complexo imagético que se expande para muito além do texto dramático de Shakespeare. Recriada em performances teatrais e cinematográficas, na obra plástica de artistas que a representam incansavelmente e na literatura que obsessivamente a reinventa, a personagem se desgarra de um enredo que lhe reserva, talvez, um papel secundário, para assumir estatuto autônomo e incorporar uma gama de sentidos, por vezes antitéticos, que vão refletir muito do contexto que a recebe e reinterpreta, projetando nela valores e ideais. Neste trabalho, inserido no projeto “Metamorfoses de Ofélia: travessias portuguesas”, atentamos para o poema “Meridional – Cabelos”, de Cesário Verde, cuja imagem dominante – a cabeleira da amada – se revela rastro de uma Ofélia que transita entre tempos, mídias e culturas, e concentra aspectos fundamentais da personagem e de seu destino: a fluidez, a metamorfose, o erotismo e a morte. Em franco diálogo com Baudelaire, por sua vez devedor da obra plástica de Delacroix e da interpretação de Harriet Smithson (a mais famosa Ophelia dos palcos parisienses), Cesário Verde introduz por meio da sinédoque poética um perfil feminino flagrantemente finissecular – a belle dame sans merci – e instaura um espaço de experiência delirante e sinestésica, bem ao gosto simbolista.

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Publicado

2024-12-18

Como Citar

Genelhu Fagundes, M. (2024). A cabeleira de Ofélia: performance, pintura e poesia. Gláuks - Revista De Letras E Artes, 24(3), 284–304. https://doi.org/10.47677/gluks.v24i3.502