Problematizando identidades de gênero e sexualidade a partir de narrativas de uma professora de línguas

Autores

  • Camila dos Passos Araujo Capparelli UEG
  • Hélvio Frank de Oliveira
  • Juliane Prestes Meotti
  • José Elias Pinheiro Neto

Palavras-chave:

Identidade homossexual, narrativas, educação linguística.

Resumo

Neste texto, buscamos problematizar questões relativas a identidades de gênero e sexualidade, a partir da interpretação das narrativas de Bete, uma professora que se identifica como homossexual e ministra aulas de língua portuguesa e espanhola para alunos/as do ensino fundamental e médio da rede pública, no interior do estado de Goiás. O material empírico que informa este estudo foi gerado a partir da interlocução da participante com a autora deste texto, que possuía um roteiro semiestruturado de perguntas motivadoras à experiência de vida contada. Para a problematização, apoiamos na perspectiva crítica de Linguística Aplicada, área de conhecimento que, em função do seu caráter inter/transdisciplinar, interage com outras relevantes à discussão sobre questões de gênero e sexualidade. Nossas reflexões evidenciam a presença de concepções essencialistas e aprisionadas (MOITA LOPES, 2016) acerca de gênero e sexualidade, em diferentes âmbitos da sociedade, inclusive na sala de aula. Esses sentidos incidem sobre a criação e manutenção de estereótipos e preconceitos que produzem sofrimento humano e invalidam determinados modos de ser, de conhecer e de pensar o/no mundo. Urge, então, incitar a leitura/escuta social de narrativas, enquanto alternativa de se fazer Linguística Aplicada, para trazer à tona o debate sobre aspectos heterogêneos das identidades humanas em contextos situados, na tentativa de promover a equidade e a cidadania daqueles/las que não se identificam com a inteligibilidade cultural das normas de gênero (BUTLER, 2017; BENTO, 2010).

 

Referências

AUSTIN, J. Quando dizer é fazer. Tradução Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes médicas, 1990.

BARBOSA, L. A. L; REIS, F. P. G. “Mulher no volante, perigo constante”: problematizações de gênero e sexualidades a partir de textos humorísticos. In: VII SEMINÁRIO CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE, n. 1, 2018, Anais do VII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade. Rio Grande: FURGS, p. 1-8.

BARCELOS, A. M. F. Desvelando a relação entre crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas, emoções e identidades. In: GERHARDT, A. F. L. M.; AMORIN, M. A.; CARVALHO, A. M. (Org.). Linguística Aplicada e ensino: língua e literatura. Campinas: Pontes, 2013. p. 153-186.

BENTO, B. As tecnologias que fazem os gêneros. In: VIII CONGRESSO IBEROAMERICANO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E GÉNERO, n. 1, 2010. Atas do VIII Congresso Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero. Curitiba: UTFPR, p. 1-13.

BUTLER, J. Os atos performativos e a constituição do gênero: um ensaio sobre a fenomenologia e a teoria feminista. Theatre Journal, v. 40, n. 4, p. 1-16, 1988.

______. Bodies that matter: on the discursive limits of sex. London: Routledge, 1993.

______. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

CELANI, M. A. A. Linguística aplicada e transdisciplinaridade. In: FREIRE, M. M; BRAUER, K. C. N; AGUILAR, G. J. (Org.). Vias para a pesquisa: reflexões e mediações. São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional, 2017.

CLANDININ, J. D.; CONNELLY, M. F. Pesquisa narrativa: experiência e história em pesquisa qualitativa. Trad. Grupo de Pesquisa Narrativa e Educação de Professores do ILEEL/UFU. Uberlândia: EDUFU, 2011.

CONCEIÇÃO, M. P. Teacher's narratives: revealing experiences and conflicting identities. In: FIGUEIREDO, C. J.; MASTRELLA-DE-ANDRADE, M. R. (Org.). Ensino de línguas na contemporaneidade: práticas de construção de identidades. Campinas: Pontes, 2013. p. 305-317.

CUNHA, N. M.; OLIVEIRA, H. F. Crise de identidade: questões ideológico-conceituais de gênero. In: VIEIRA, M. S.; BONAFIM, A. (Org.). Problematizações e debates em língua e literatura. Curitiba: CRV, 2019. p. 79-86.

FABRÍCIO, B. F. Linguística aplicada como espaço de "desaprendizagem": redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.

HALL, S. Quem precisa da identidade? In: SILVA, T. T. et al. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. São Paulo: Vozes, 2009. p. 103-133.

______. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015.

LOURO, G. L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. São Paulo: Autêntica, 2008.

MIGNOLO, W. D. Histórias locais/Projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

MOITA LOPES, L. P. Discursos de identidades: discurso como espaço de construção de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas: Mercado das Letras, 2003.

______. Linguística Aplicada como lugar de construir verdades contingentes: sexualidades, ética e política. Gagroatá, Niterói, n. 27, p. 33-50, 2009.

______ Os espaços da narrativa como construto teórico metodológico na investigação em linguística aplicada. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2010.

______. Linguística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa. In:______ (Org.) Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. p. 85-107.

OLIVEIRA, H. F. Esculpindo a profissão professor: experiências, emoções e cognições na
construção das identidades docentes de licenciandos em Letras. 2013. 305 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

______. tiranias da identidade do professor de LE: crenças, emoções e ações por meio da linguagem. Letras Escreve, v. 6, n. 2, p. 13-38, 2016.

______. A bagagem do PIBID para a formação inicial docente e para a construção da identidade profissional. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 56, n. 3, p. 913-934, 2017.

______. Esculpindo a profissão docente. Anápolis: Editora UEG, 2017.

PAIVA, V. L. M. A pesquisa narrativa: uma introdução. Revista Brasileira de Linguística Aplicada (RBLA). Belo Horizonte, v. 8, n. 2, 2008.

PENNYCOOK, A. Uma linguística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. p. 67-84.

______. Critical applied linguistics: a critical introduction. Londres: Routledge, 2001.

PESSOA, R. R; HOELZLE. M. J. Ensino de línguas como palco de política linguística: mobilização de repertórios sobre gênero. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v. 56, n. 3, p.781-800, 2017.

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
______. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

ROJO, R. Fazer Linguística Aplicada em perspectiva sócio histórica: privação sofrida e leveza de pensamento. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística INdisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. p. 224-274.

SILVA, T. P. Performances narrativas de e sobre um professor homoerótico "fora do armário". 2011. 195 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

URZÊDA-FREITAS, M. T. Letramentos queer na formação de professorxs de línguas: complicando e subvertendo identidades no fazer docente. 2018. 269 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

Downloads

Publicado

2020-02-06

Como Citar

Capparelli, C. dos P. A., de Oliveira, H. F., Meotti, J. P., & Neto, J. E. P. (2020). Problematizando identidades de gênero e sexualidade a partir de narrativas de uma professora de línguas. Gláuks - Revista De Letras E Artes, 18(1), 242–259. Recuperado de https://revistaglauks.ufv.br/Glauks/article/view/73